O Cambuci é uma fruta legitimamente Paulista que conquistou os Ingleses e se encontra em grande quantidade na Vila de Paranapiacaba.
Fruta Cambuci | Foto por www.avilainglesa.com
Antes muito consumido pelos índios, depois adaptado a culinária Inglesa, o Cambuci hoje é utilizado como ingrediente principal em suas mais variadas formas. Em Paranapiacaba você encontra desde a fruta Cambuci até sorvetes, bebidas alcoólicas, bolos geleias e por ai a fora.
Produtos feitos com Cambuci | Foto por José Cordeiro/ SPTuris.
A fruta tem um sabor azedinho e único, e o formato parecido com potes de cerâmica (o que deu origem ao seu nome, afinal cambuci é o nome dos potes de cerâmica na cultura indígena).
Foto por www.avilainglesa.com
A presença de Cambuci em uma floresta indica que a natureza está bem conservada.
Foto e Montagem por Jaqueline Sgaraboto
O festival de Cambuci em Paranapiacaba
A primeira edição da Festa do Cambuci de Paranapiacaba aconteceu no mês de abril de
2004, junto às festividades comemorativas ao aniversário da cidade de
Santo André, abrindo um leque de oportunidades positivas às atividades
turísticas da vila.
Desde então este evento cresce e se repete com
sucesso. Apesar do êxito, é preciso mais atenção por parte da municipalidade local no tocante à preservação da mata atlântica. É necessário que se estimule o plantio de mudas e se preserve as árvores já existentes, pois muitos moradores ainda não aprenderam a valorizar e respeitar esta árvore que se encontra em extinção.
Ao buscarem uma nova fonte de renda, adentram a mata de qualquer forma, a derrubando, subindo nas árvores, quebrando seus ramos e colhendo frutos ainda imaturos.
Além disso, é preciso que uma parte dos frutos permaneça nos pés, pois ela é de importância fundamental na estrutura da mata atlântica, servindo o fruto de alimento para pássaros e animais terrestres.
As histórias que assombram Paranapiacaba são tão famosas quanto a própria Vila.
Lendas antigas contadas pelos veteranos ou até mesmo as recém criadas, como a do Jack o Estripador, atraem visitantes dos mais diversos locais.
O castelinho, a senhora que dança à noite no
Clube União Lira Serrano, o trem-fantasma que sobe o 13º túnel na
serra, o motivo que faz com que os moradores da Vila tratem a chegada
da neblina como "a noiva está chegando", o que acontece quando batem
três vezes na madeira do Pau da Missa... Essas são apenas algumas das diversas histórias contadas por moradores da região.
E agora, que tal conhecer algumas?
Foto por paranapiacabaufabc.wordpress.com
Pau da Missa
Quando os ingleses viviam na Vila, eram de maioria religiosa protestante e anglicana.
Na parte alta ficava (ainda fica) a igreja católica Bom Jesus de Paranapiacaba. Para anunciar cerimônias, procissões, missas de sétimo dia e cortejos fúnebres aos moradores católicos da parte baixa, o padre usava uma árvore conhecida como Pau da Missa.
O costume continua, na mesma árvore, embora boa parte dos moradores tenha adotado a religião evangélica. Diz a lenda que se alguém bater três vezes à meia-noite nesta árvore verá o espectro da pessoa que morreu cujo nome está anunciado no Pau da Missa.
Foto por Jaqueline Sgaraboto
Caminho do Mens
A rota mais curta que liga a vila Martin
Smith (parte nova) à parte velha passa atrás do Castelinho. É o caminho
do Mens (homenagem ao engenheiro Frederic Mens). Moradores recomendam
não usá-la. Mas se tiver de fazê-lo, convém subir cantando, para que um
espectro assustador não o assombre.
Foto por Jaqueline Sgaraboto
Trem-fantasma
Na serra, entre o quarto e o quinto
patamar da ferrovia, seria possível ouvir à noite ruídos de locomotivas e
gritos das pessoas que morreram em acidentes durante a construção do
sistema funicular. Diz a lenda que à noite também é possível ouvir o som
de uma locomotiva cuja caldeira explodiu, além da sensação de
deslocamento do ar por causa da passagem da composição no 13º túnel do
trajeto.
Se é verdade ou mito nunca saberemos, mas se temos certeza de algo é de que essas histórias são parte da história da Vila de Paranapiacaba.
A convite do blog A vila Paranapiacaba os agentes culturais Paulo Vitor e Paulo Tacio, da prefeitura de Santo André, nos concederam uma entrevista contando muitos detalhes sobre a vila e sua história que nem todos conhecem.
Abaixo você também pode conferir a entrevista por escrito:
Entrevistados: Paulo Vitor e Paulo Tacio - Agentes culturais da prefeitura de Santo André – Paranapiacaba
Paulo Vitor: A vila foi construída para servir de moradia para os trabalhadores da ferrovia, que ligava são Paulo a santos (Jundiaí ao porto de santos), como um ponto importante para o escoamento do café para o porto, para que pudesse ser importado.
Então nós temos nesse período de 1867 até 1897 uma segunda parte da construção (parte da vila nova), então a construção dela vai ser totalmente planejada, ruas mais largas, casas seguindo tipologia e os trabalhadores vão se alocar dentro dessas casas dependendo da função deles dentro da ferrovia e não pelo tamanho da família.
Até 1946 a vila pertence a São Paulo railway, e depois ela passa a ser ferrovia federal com uma nova forma de administração.
Em 2002 ela é comprada por Santo André onde ela passa a ser patrimônio histórico e se começa a trabalhar com o turismo.
Hoje existem moradores que ainda tem parentesco com os antigos ferroviários, mas também existem novos moradores.
Paulo Tacio: A formação política da vila, além da presença da prefeitura de Santo André existe várias instituições. Uma delas é o condephaat, já que a vila se tornou patrimônio do estado em 1987 e em 2002 ela se transforma em patrimônio nível nacional e em 2007 a prefeitura de Santo André pelo instituto dela que cuida da questão de patrimônio torna a vila um patrimônio do município.
A parte baixa ela pertence a santo André, o miolo da vila que vemos quando passamos pela passarela quem toma conta é uma das empresas privadas que é a associação brasileira de preservação ferroviária (responsável pelo museu funicular) , porque a rede ferroviária federal foi privatizada em 1998 e ai que passa a fazer o escoamento dos produtos também a MRS que também passa por esse “miolo”.
Já na parte baixa os moradores são proprietários da casa, e na parte baixa as casas são alugadas. A partir disso também tem uma questão interessante que gera uma série de conflitos.
A vila como foi citada anteriormente sobre essa questão mais recente tem tentado trabalhar o turismo, um dos festivais mais emblemáticos aqui é o festival de inverno, que tem um publico muito grande, em um final de semana chega a reunir 15mil pessoas, segundo estatísticas. E temos outros diversos eventos ao decorrer do ano, alguns são os próprios moradores quem organizam, outros a prefeitura e também algumas instituições privadas.
Paulo Vitor: A vila pode ser dividida em três blocos: A parte alta, a parte baixa velha e a parte baixa nova.
A parte alta começa a ser povoada junto com a parte antiga e a parte nova começa a ser povoada em 1897 e é uma área totalmente panejada.
Hoje na vida a partir do momento que começa a se criar uma nova configuração, que Santo André compra a vila começa a se trabalhar com os eventos, que além do festival de inverno temos também a feira literária que em 2015 será a segunda edição em setembro, o carnaval que é um evento importante para os moradores, é um carnaval tradicional da vila, então sempre buscamos trabalhar nessa festa com a memória do morador, procuramos algo de tradição como as marchinhas de carnaval. Também é muito importante para a vila o Cambuci, então se encontra desde pinga de Cambuci até geleia de Cambuci.
Paulo Tacio: Na parte alta de pontos interessantes temos o cemitério e a igreja, já na parte baixa temos o museu castelo, a casa da memória, o centro de documentação arquitetônica, o campo de futebol. Mas também relacionado a patrimônio material também tem os lugares que os moradores se identificam, então tem vários pontos afinal a vila é um museu a ceu aberto.
Paulo Vitor: Só o fato de você conversar com os moradores e descobrir histórias antigas da vila já é algo que te atrai, algo mágico para quem vem para paranapiacaba, algo extremamente interessante. Então temos o patrimônio material e também o imaterial que é muito importante para se manter a história da vila.
Um agradecimento especial aos agentes que foram tão atenciosos e prestativos conosco. E também a todos os envolvidos para que essa entrevista fosse possível.
O histórico de mistérios que fazem parte da vila é do conhecimento de todos, mas você sabia que houve um incêncio em 1981 que transformou a estação no que conhecemos hoje?
Incêndio na estação em Janeiro de 1981 | Foto por EF Brasil
Saiba mais sobre o incêndio da segunda estação de Paranapiacaba
A atual estação de Paranapiacaba não é o mesmo prédio construído pelos
ingleses no final do século XIX. O prédio original tinha trilhos por
onde passavam os trens pelos dois lados, era bem maior que o atual, mas
foi destruído por um incêndio em Janeiro de 1981. Antes mesmo do incêndio, a
estação já havia sido desativada em 1977 e substituída pelo prédio
atual.
Posição do relógio após o deslocamento | Foto por Jaqueline Sgaraboto
O relógio estilo britânico foi poupado e deslocado para uma torre
mais alta que a anterior.
Linha de Paranapiacaba atualmente | Foto por Jaqueline Sgaraboto
Outras histórias de incêndios marcaram a
história da linha Santos - Jundiaí. Em 1946, parte da Estação da Luz, na
região Central da Capital Paulista, foi destruída pelas chamas. Este
incêndio ocorreu dois dias antes do término de concessão da empresa de
capital inglês, São Paulo Railway. Documentos importantes sobre o
contrato foram destruídos.
Tanto no caso de Paranapiacaba quanto no da
Estação da Luz, houve suspeita de incêndios criminosos.